Uma vez escolhido chefe da Família De Souza, Honoré Julião Feliciano de Souza foi levado à presença do rei Agoli-Agbo Dédjahagni para reivindicar o título de Chachá. O encontro se deu no palácio privado do Rei, nos arredores de Abomé, no dia 5 de outubro de 1995.
A delegação de Uidá era composta por uma quinzena de pessoas, dentre as quais se destacavam Marcelin de Souza, o mais velho da família, Noël Feliciano, representante do ramo da família estabelecido no Togo e as tassinons, como são chamadas as matriarcas da família.
Eles foram recebidos em um salão mobiliado com um sofá para o rei, um outro para os convidados principais, e várias poltronas, dispostas em semicírculo, para os demais presentes. Dois ministros do rei tomaram lugar sobre esteiras diante do sofá real, e o restante do séquito do Chachá foi colocado ao fundo da sala, ao lado da imprensa. O salão é amplo e luxuoso para os padrões locais, e a decoração e os móveis são distribuídos como nas casas abastadas no Benim. As paredes são pintadas em azul celeste, decoradas com várias fotografias mostrando o rei em diversas situações e o papa João Paulo II, além de um tradicional tecido com apliques representando os reis de Abomé, oito calendários publicitários e uma estatueta da Virgem católica, pendurada bem acima do sofá do rei.
Agoli-Agbo fez sua entrada solene acompanhado de várias mulheres que se sentaram no chão, a seus pés. Vestido com um grande pagne passando pelo ombro, com o boné tradicional em forma de calota, ele trazia uma corrente de ouro em volta do pescoço, um bracelete e o filtro de nariz feito de prata, que constitui a marca dos reis de Abomé desde o sucessor de Behanzin . Depois da chegada do rei, quando todos tinham se instalado, as mulheres do rei ofereceram um recipiente cheio d’água ao Chachá. Ele bebeu um gole, e passou a Marcelin, Noël Feliciano e Generosa de Souza, Sagboram de casada, a tassinon que estava a seu lado no sofá. A seguir das boas vindas feitas pelo Migan, o ministro principal, em nome do Rei e por ele próprio, o Sr. Marcelin e o Chachá, secundados por duas tassinons, se ajoelharam então diante do rei, e o mais velho dentre os De Souza disse, em fom:
“Eis aqui aquele que colocaremos sobre o trono de Chachá e que nós conduzimos ao rei para que ele cuide dele, e benza-o. Ele se chama Honoré Feliciano de Souza. É este aqui quem colocaremos no trono.”
Ele tomou as duas mãos do Honoré e colocou-as entre as do rei. Este murmurou algumas palavras e cuspiu nas mãos do futuro Chachá, que as passou pela cabeça. Neste momento, o rei disse solenemente:
“Nada o tocará para fazer-lhe mal.”
A família: “Amém!”
A delegação de Uidá voltou aos seus lugares e o porta-voz do rei, falando em nome de Marcelin de Souza, disse em fom:
“O mais idoso da família De Souza vos saúda, rei e amigo de nosso pai. É por causa dos laços de amizade que unem as duas famílias que nós viemos apresentar aquele que será nosso chefe. Não podemos fazer esta apresentação sem dizer algo. Entre nós chamamos o amigo: ‘Amigo, vem beber a bebida.’ Nós estamos contentes que o rei tenha bendito o nosso chefe. É por isso que damos quatro garrafas de licor: uma garrafa de Dubonnet, para significar que é o rei Guêzo que me ajudou no seu reino e elevou o meu nome.* Nós damos uma garrafa de rum Saint-James, duas garrafas de gim Heinneken e um envelope de dinheiro. Tudo isso para saudar o rei pela sua bênção.”
O rei:
“Eu lhes agradeço. Eles encontrarão centuplicado aquilo que oferecem. O rei Guêzo olhará por eles.”
O porta-voz do rei, falando sempre em fom, mas desta vez em nome do Chachá:
“O Chachá diz que ele veio aqui, ele viu os outros dignitários com o rei. Ele não pode esquecê-los. Por isso ele doa 1.000 FCFA. E não pode esquecer os Dah e Tata, por isso doa 1.000 FCFA. Assogba que está ao lado do Mitô disse que ele era o mensageiro entre o rei e o Chachá e que por causa dele as amizades se solidificaram, que ele não pode vir aqui sem dizer algo, ele então doa 2.500 FCFA. Ele doa ainda 1.000 FCFA ao Voudungan.”
E acrescenta:
“O rei lhes agradece. Tudo isso que vocês fizeram aqui prova que vocês conhecem realmente a história.”
O rei retoma a palavra:
“Nós estaremos com vocês no dia da cerimônia. Nada os perturbará.”
O porta-voz encerra então a audiência:
“Sua Majestade Dédjahagni Agoli-Agbo, sucessor dos antigos reis do Daomé, presidente do conselho de administração da Família Real de Abomé, deseja um bom retorno a todos os descendentes da família De Souza, suas famílias aliadas e deseja que as cerimônias de entronização se passem segundo o ritual que eles mesmos conhecem e que tudo se desenrole em paz. Ele deseja que o dia em que vocês venham ao Palácio Honmè Songbodji do rei Guêzo para receber as distinções que são ligadas a esta função na corte dos reis de Abomé, que esta data seja comunicada o mais rápido possível à corte para que tomemos todas as disposições para dar a este acontecimento a importância que ele merece. Eu lhes agradeço.”
Todo mundo se levanta, e o jornalista da televisão toma a dianteira e pergunta indiretamente ao rei, em fom:
“Os amigos, os descendentes do amigo íntimo e jurado do rei Guêzo vieram ver o sucessor do rei Houégbadja para mostrar o ‘kpoge’. Eles são muito numerosos atualmente e ocupam um bairro ou mais. Eles vieram conhecendo a história, eles tiveram a bênção do rei. Se nós pudéssemos ouvir a voz do rei, isso seria bom.”
O rei responde:
“É verdade o que você disse. Todos aqueles que estudaram neste país devem saber como era a amizade entre o rei Guêzo e Chachá. Eles sabem também o que diziam o rei Guêzo e o Chachá entre si, isso se canta e se conta. Se as crianças escutaram a história e decidiram perpetuar a tradição é uma boa coisa. Eles constituem o que os intelectuais chamam de diáspora. Para resolver um assunto hoje em Uidá, não se pode ignorar os De Souza. Se eles dizem que vão continuar a honra que teve seu ancestral no Daomé, é preciso benzê-los para que eles tenham paz em nome do rei Guêzo e dos antigos Chachás. E Singbomey reencontrará sua glória do passado. O novo Chachá unificará a família e haverá paz.”
A família diz ainda uma vez “Amém”, antes que o jornalista faça uma última pergunta ao rei: “Eles vieram mostrar o ‘kpoge’, pode-se dizer que ele está aceito pelo rei?”
O rei:
“Não se pode mais fazer esta pergunta. Eu já disse e precisei que neste dia nós estaremos com os amigos de rei Guêzo e que tudo se fará na alegria.”
O rei, suas mulheres e seus ministros se levantam e se dirigem à saída, seguidos pela delegação do Chachá. Uma mulher mantém um guarda-chuva decorado com os símbolos dos antigos reis de Abomé sobre a cabeça do rei, que acompanha o Chachá até a grande porta de entrada do pátio real, sob o olhar atento das câmeras de televisão. Do lado de fora, os jornalistas já estão à espera. O Chachá fala então pela primeira vez desde a sua chegada ao palácio. Em francês, ele declara:
“Eu serei entronizado Chachá no dia 7 de outubro, ou seja, dentro de dois dias. A família decidiu trazer-me para ver o rei, para mostrar-lhe que sou eu quem vai ser o chefe da família. Eu penso em trabalhar com dignidade, fazer a família mais forte.”
Honoré Feliciano de Souza e sua comitiva. A delegação de Uidá era composta por uma quinzena de pessoas, entre as quais Marcelin de Souza, Noel Feliciano, um representante do ramo Togo e as tassinons. - 5 de outubro de 1995 - Abomé, Benim
No primeiro plano, Honoré Feliciano de Souza e sua esposa, logo atrás, Noel de Souza e, meio encoberto, Marcelin de Souza. vestindo uma suntuosa iorubana. - 5 de outubro de 1995 - Abomé, Benim
Mais de um século depois da execução de Julião, seu neto compareceu diante da corte de Abomé para ser apresentado ao neto do rei Glèlè como aquele que a família designara como Chachá. O reencontro teve lugar no palácio privado do rei Agoli-Agbo Dédjahagni, nos arredores da antiga capital fom. - 5 de outubro de 1995 - Abomé, Benim
Uma vez escolhido chefe da Família De Souza, Honoré Julião Feliciano de Souza foi levado à presença do rei Agoli-Agbo Dédjahagni para reivindicar o título de Chachá. - 5 de outubro de 1995 - Abomé, Benim
O rei Agoli-Agbo Dédjahagni e suas acompanhantes. - 5 de outubro de 1995 - Abomé, Benim
O rei Agoli-Agbo recebe cerimonialmente Honoré Julião Feliciano de Souza e sua comitiva no salão de seu palácio particular em Abomé. Ao lado do Chachá, o sr. Marcelin, ambos secundados por duas tassinons. - 5 de outubro de 1995 - Abomé, Benim